Sempre que penso em incentivar os jovens a participarem de movimentos sociais, lembro do texto “O Analfabeto Político” de Bertolt Brecht e, acabo lendo para aqueles que se orgulham e estufam o peito ao dizerem que odeiam política. Das mais variadas reações fui testemunha; vi aquele me dizendo que aquilo era bobagem, aquele que se irritou e disse que esse texto de Brecht é coisa para quem gosta mesmo de política, aquele que parou para pensar e acabou dizendo que não é bem assim e que sabe que é importante participar e tal.
É, esse texto deveria ser mais divulgado, mais lido pelos nossos jovens. Sim, mais lido por esses jovens que serão o futuro de nossa nação e que devem ter ciência de “que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
Fácil dizer: “Eu odeio política!”, mas não é fácil fazê-la mudar, fazê-la ir ao interesse de quem realmente necessita. Muito se confunde em o ‘odiar política’ com odiar os políticos que estão no poder, mas deve-se lembrar que indo votar somente por votar ou pior nem ir depositar seu voto é que torna a política brasileira o caos que é hoje. No entanto, enquanto não percebermos que somos os agentes transformadores e formadores de opinião, enquanto nós jovens não encabeçarmos a frente desse processo, a política brasileira vai continuar tendo essa cara fantasiosa da maravilha, do milagre frágil e quase impossível, da máscara que se altera e se adapta conforme o ator, da simulação, do tudo virar na torta italiana, porém com sabor bem brasileiro.
Vejo jovens com 16 anos sem título de eleitor e ainda reclamando de ser obrigado a realizá-lo aos 18. Imagine o que seria desse país se não fossemos obrigados a votar… Penso que seria pior, quando um político corrupto, com mais dinheiro, ganharia mais votos. Felizmente isso hoje já diminui, o coronelismo tende a desaparecer ou quase não acontece, digamos que não tanto, quando uma população se educa, se instrui, despertos para uma outra realidade, para uma humanização, para uma consciência maior de alguns.
Jovem, pense que “o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”. E, você poderá num primeiro momento dizer: ‘E daí?, são os homens lá em cima que decidem’ ou ‘Sempre foi assim, ‘são os políticos ou os donos do poder quem decidem’. Muito bem, pensando nesta pirâmide arquitetada pela nossa cultura, procure lembrar que quem toma decisões políticas são os políticos (até aí nada de novo!), e quem os elegem somos nós. Vire essa pirâmide e veja que pesa mais. A pressão é fundamental.
Nós, os Jovens, ocupantes de uma camada considerável na sociedade brasileira, não teríamos uma posição considerada importante em pressionarmos as decisões? Deve-se pensar em pressão acompanhada de consideração, de análise, quando bem pensada uma situação e ponderadas as conseqüências é que tem valor. Então, temos o dever de desde agora participarmos dessas decisões, pois caso contrário, no futuro, nós é que teremos além do poder de decidir, a situação de sofrer as conseqüências e ter de assumir a responsabilidade maior de responder por elas e, de em prazo curto ou nem isso, encontrar soluções.
Sem ser pessimista, mas será que determinadas situações poderão ser remediadas?
Autor: Saulo da Silva Gil
Publicado no Jornal O TIMONEIRO – Canoas, 13 a 19 de março de 2009