Como militante do Movimento Negro, sempre em defesa da igualdade racial, eu levanto o debate sobre as religiões de Matriz Africana, e tenho percebido, em alguns lugares, um certo mal estar, uma certa resistência. No meio político, tem quem diga que não devemos misturar religião, enquanto isso a bancada evangélica aumenta e dentro dela setores mais radicais, tentando acabar e perseguindo as religiões de origem africana.
Alguns setores dizem que devemos ter cuidado na abordagem, pois existem negros das mais variadas religiões e, evidentemente, devemos respeitar por ser esta, além de uma realidade social, uma escolha pessoal quando da e na procura de uma crença que lhe responda ou preencha às necessidades mais íntimas de alma.
Quando falo a respeito e levanto a temática, sempre abordo que vivemos num Estado laico, e sim, existe o negro católico, o negro espírita, o negro evangélico, enfim, num País como o Brasil, existem negros das mais variadas religiões e isso deve ser respeitado. Mas me questiono, sendo eu militante do movimento negro, como não incluir nesse debate as Religiões de Matriz Africana? Sabedor que cada terreiro existente tem uma História e que essa história vai ao encontro de nossa ancestralidade e que nos leva a mãe África, que cada terreiro carrega em seus preceitos e fundamentos a cultura africana, temos sim o dever de incluir no debate as religiões de matriz africana e sim, ter um olhar diferenciado na sua defesa, exatamente por carregar grande parte da história e da cultura do negro, ainda desconhecida por muitos.
Ultimamente as Religiões de Matriz Africana tem sofrido muita perseguição, onde o preconceito só aumenta, mas o povo de terreiro tem se unido e enfrentado. São enfrentamentos em relação às propostas de mudança nos códigos de proteção ao animal por, onde ocorrem ataques sem ter conhecimento dos fundamentos e ritos, gerando uma verdadeira guerra entre protetores de animais e o povo de Matriz Africana, guerra essa inflamada e motivada, em grande parte por determinados setores evangélicos.
Meu intuito não é gerar um mal estar, mas sim incluir como uma das principais bandeiras nos mais variados encontros e debates sobre o negro, as Religiões de Matriz Africana, pelo que representa e preserva culturalmente.
Essa é uma bandeira pessoal, sou militante do Movimento Negro, sou militante da Liberdade Religiosa e da Matriz Africana.
Saulo da Silva Gil
Cientista Político